Mulheres na construção civil, evolução e protagonismo.

Ainda que de forma lenta, avanços vêm sendo conquistados na busca por um mercado de trabalho mais equitativo e igualitário para as mulheres.
No caso da construção civil, já não é tão incomum encontrarmos engenheiras à frente de canteiros de obras. Também há exemplos femininos liderando construtoras e incorporadoras, escritórios de
projetos e empresas fornecedoras. Mas o gap entre os gêneros ainda é enorme. Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) apontam que há mais de 199 mil mulheres ativas na profissão, cerca de 19% do total. Já trabalhadores do setor. Segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2006 a 2019, o número de trabalhadoras formais nas mais diversas áreas da indústria da construção cresceu 98%, passando de 108mil para 214 mil. Ainda assim, em 2021, elas eram menos de 11% dos trabalhadores no setor.

Há múltiplos fatores que contribuem para a menor presença feminina, especialmente de ordem social.
Segundo um estudo do IPEA, mulheres com filhos pequenos têm a metade da chance de participar do
mercado de trabalho, quando comparadas àquelas sem filhos. Além dos filhos, a tarefa de cuidar de familiares idosos é outro motivo para afastar as mulheres do mercado de trabalho. A necessidade de mudar essa realidade e identificar os entraves e as oportunidades para o crescimento do protagonismo feminino levou à realização da pesquisa “Mulheres na construção: evolução e protagonismo”.
O trabalho conduzido por Portal AECweb, Sienge Comunidade e todo o Ecossistema Tecnológico
da Indústria da Construção da Softplan traz dados interessantes. O objetivo é gerar uma reflexão sobre
como promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no setor. Siga conosco e tenha uma excelente leitura.

PESQUISA MULHERES NA CONSTRUÇÃO CIVIL – EVOLUÇÃO E PROTAGONISMO


A pesquisa “Mulheres na Construção Civil: evolução e protagonismo” é uma realização do Portal AECweb e do Sienge Comunidade, em conjunto com o Ecossistema Tecnológico da Indústria da Construção, da Softplan. O objetivo do trabalho foi mapear entraves e oportunidades para o crescimento do protagonismo feminino em um setor ainda predominantemente masculino e pouco diverso.
A pesquisa foi realizada entre os dias 20 de fevereiro e 06 de março de 2024, reunindo 619 respostas.

A AMOSTRAGEM


Em sua primeira edição, a pesquisa adotou uma abordagem simplificada, com dados não estratificados. Foi utilizado para o cálculo amostral o número de funcionários segundo dados do IBGE (2021). A ideia é que o trabalho sirva como ponto de partida para futuras investigações mais aprofundadas.
A obtenção de 619 respostas permitiu uma visão ampla e valiosa sobre o setor. A maior parte
da amostragem foi composta por profissionais em posição de gerente/coordenador, seguido
de sócios-proprietários. O levantamento foi
respondido em sua maioria por mulheres (68%),
brancas (67%), arquitetas e engenheiras (58%)

RESULTADOS


A análise dos dados obtidos permite constatar que a construção civil vem avançando quando o tema é a
participação feminina nas empresas. Contudo, ainda há um longo caminho a ser conduzido até chegarmos a um mercado realmente igualitário e justo.


POR QUE AMPLIAR A PRESENÇA FEMININA É IMPORTANTE?


Elevar a participação feminina na construção não serve apenas para reparar desigualdades históricas, mas também para beneficiar as empresas e a sociedade como um todo. Isso porque a diversidade está muito associada a valores como inovação e criatividade. Segundo o estudo “A diversidade importa cada vez mais: o valor do impacto holístico”, realizado pela McKinsey & Company, empresas com uma representação equilibrada de gênero em cargos de liderança são mais propensas a superar a concorrência e a ter um desempenho financeiro superior. Afinal, a multiplicidade de perspectivas leva a soluções mais
abrangentes e inovadoras, algo vital em um setor que está em constante evolução, como a construção civil.

Com foco em diversidade corporativa na América Latina, outro estudo da McKinsey & Company reforçou que a adoção de medidas para promover a diversidade tende a levar as empresas a uma melhor performance organizacional e financeira. Na visão dos pesquisadores, as empresas comprometidas com a diversidade também se destacam por terem um clima organizacional mais saudável e funcionários engajados.

A diversidade e a equidade entre gêneros também é um ponto relevante para as empresas que aspiram ter impacto positivo e querem estar alinhadas aos princípios ESG(Environmental, Social and Governance), que tratam da responsabilidade ambiental, social e da governança das corporações. O entendimento é o de que todos são beneficiados com o aumento da diversidade: os colaboradores ganham porque vão se sentir mais felizes e acolhidos. Os clientes também são favorecidos porque têm a oportunidade de se verem representados no negócio, aumentando os níveis de satisfação. Por fim, a sociedade ganha à medida que as empresas são agentes de transformação e instrumentos poderosos para reduzir desigualdades. Tudo isso se reflete em benefícios para acionistas e investidores.

OBSTÁCULOS AO PROTAGONISMO FEMININO


A pesquisa “Mulheres na Construção Civil: evolução e protagonismo” identificou alguns gargalos quanto à participação mais plena das mulheres nas empresas da construção.
Um deles é a falta de equidade salarial. Parece óbvio que trabalhos iguais devam ser remunerados da mesma maneira. No entanto, no Brasil, as mulheres brasileiras ainda recebem, em média, 22% a menos do que homens em posições similares. Os dados são de 2023 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Um avanço importante nessa causa foi a regulamentação da
Lei 14.611/2023 criada para garantir a equidade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função, sem que haja qualquer tipo de discriminação.

Há muita expectativa sobre os efeitos práticos dessa nova legislação. De qualquer maneira,
continua sendo fundamental que os empregadores compreendam que promover igualdade entre
gêneros impacta positivamente a sociedade e, também, o seu próprio negócio.
De acordo com o estudo “Women in Business and Management: The business case for change” da International Labour Organization (ILO), um dos braços da ONU, entre as companhias que trabalham
na promoção de um ambiente mais igualitário, 74% relataram um crescimento de 5% a 20%. Além
disso, 60,2% relataram aumento no lucro e 56,8% na atratividade e retenção de talentos

PRECONCEITO E AMBIENTE MACHISTA


Apesar de todos os avanços realizados nos últimos anos, o setor de construção civil ainda é não apenas masculino, mas também altamente masculinizado. Isso, muitas vezes, cria um ambiente de trabalho hostil para a atuação feminina.
Prova de tal ambiente negativo é que, às mulheres que atuam no setor, sobretudo em funções
mais técnicas e de liderança, é muito comum a necessidade de “se impor”, “mostrar seriedade e
autoridade” e “comprovar conhecimento técnico a todo momento”.

“Já estive em situações em que senti esse preconceito. Uma delas foi a primeira
apresentação que eu fiz para investidores. O primeiro comentário após o término da minha
fala foi de um homem, que elogiou os meninos da empresa que tinham escolhido a moça bonita
para fazer a apresentação, desmerecendo tudo o que eu havia falado, focando apenas na minha
aparência”, conta Paula Lunardelli, engenheira civil, diretora executiva e fundadora da Prevision.
Ela conta que esse momento serviu para que ela se fortalecesse. “Um trabalho interno muito
importante que fiz ao longo da minha jornada foi o de saber me posicionar, de ter clareza que
meu valor não está relacionado ao fato de eu ser mulher, e sim à minha competência, ao meu
propósito e ao meu objetivo”, diz a executiva.

NECESSIDADE DE COMPROVAR COMPETÊNCIA


O relatório “Engenharia, Trabalho e Relações de Gênero na Construção de Habitações”, da Fundação Carlos Chagas, reforça que há resistência à aceitação da autoridade técnica e da posição hierárquica das mulheres por parte dos mestres, encarregados e demais operações. “A pretensa incapacidade intelectual e técnica das mulheres e sua suposta falta de habilidade para comandar equipes masculinas é um estereótipo depreciativo aplicado ao gênero feminino que está bastante ativo na construção de habitações, particularmente nos canteiros. Uma decorrência dessa discriminação de gênero é o fato de o erro feminino ter maior repercussão que o masculino”, argumentam os pesquisadores.
“Um mito difícil de transpor é a expectativa de que determinadas ‘skills’ são fundamentais e de que essas habilidades são encontradas mais frequentemente em homens”, comenta Renata Aschar, Chief Revenue
Officer (CRO) da Softplan e diretora executiva do Gestor de Obras. Essa pressão acaba impondo um esforço constante às profissionais, com reflexos no campo emocional e de saúde mental.

DICAS PARA ELIMINAR ALGUMAS BARREIRAS


“Não é o gênero masculino ou feminino que define se a pessoa tem mais ou menos capacidade
para assumir determinada posição. O importante é gostar do que se faz, ter comprometimento e
dedicação”, acredita a engenheira Amanda Carla Martins Montouto, gerente técnica à frente das obras
da construtora MBigucci.
Ela recomenda que as mulheres que desejam seguir carreira na construção não se apeguem ao
preconceito. “É importante levantar a cabeça, não se menosprezar, ter uma postura séria e firme,
estudar muito e se atualizar sempre”, diz Montouto.

Renata Aschar reitera a necessidade de que as mulheres tenham um posicionamento firme, mas
complementa que isso deve vir acompanhado de autenticidade, acolhimento e autocompaixão.
“A prática destes comportamentos é um fator preponderante para evitarmos nos encolher diante de
situações que não nos cabem e que nem cabem mais à sociedade atual”, destaca ela. “Precisamos
direcionar ações que façam a mudança de cultura acontecer na prática. Também devemos trabalhar a
nossa maneira de sermos indivíduos, independente de nosso gênero, para sermos reconhecidas como
seres integrais”, conclui

CONCLUSÃO
Na construção civil, cada vez mais empresas têm implementado políticas e programas para promoção
de diversidade e inclusão. Ao mesmo tempo, há cada vez mais mulheres se destacando e conquistando
espaços nesse mercado de trabalho.
Muitas das ações em andamento se concentram na formação de novas profissionais, por meio de cursos
de capacitação desenvolvidos em parceria com instituições de ensino — como Senai e Sebrae — e
entidades não governamentais, a exemplo do Mulher em Construção, Mulheres Constroem e Projeto Mão
na Massa, entre outras iniciativas transformadoras.

O Ecossistema Tecnológico da Indústria da Construção da Softplan também tem se mobilizado visando reduzir as desigualdades de gênero. Um exemplo de ação positiva é o grupo Mulheres na Construção do Sienge Comunidade. O fórum reúne exclusivamente mulheres que atuam no setor e oferece workshops, eventos online e cursos de capacitação. O objetivo é aumentar a presença feminina na indústria da construção, dando voz e o apoio necessário para as mulheres se desenvolverem e avançarem em suas carreiras. Participe!

fonte: www.aecweb.com.br

AECweb + Sienge Com

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