AMBIENTE CORPORATIVO e a NEUROARQUITETURA
Seria o ambiente de trabalho um ponto chave para o retardo das demências ao longo da vida?
De fato, manter-se ativo, independente e com autonomia por longos anos é o sonho cobiçado por muitos no ambiente corporativo, visto a importância de manter-se produtivo e estar à frente dos negócios junto aos demais empresários. Para isso, é necessário manter o cérebro estimulado de forma saudável, buscando sempre o aumento da atividade cerebral – o que torna o sonho da longevidade complexo, mas possível de ser realizado.
No entanto, o envelhecimento natural humano repercute em vários modificações temporais, que podem ocorrer de forma gradual, como a perda da acuidade visual, auditiva e tátil; ou de forma rápida e agravante, como o comprometimento cognitivo, e, progressivamente, o despertar dos quadros demenciais, como a Doença de Alzheimer, Vascular e a Demência da Doença de Parkinson.
Entre 2000 e 2019, a causa de morte por demência aumentou em 181%, sendo mais evidente em países subdesenvolvidos e tendo a Doença de Alzheimer (DA) como 60% dos casos. No Brasil, estima-se que em 2050 a demência terá um crescimento de até 240% dos casos, gerando diversas problemáticas sociais, familiares e de saúde pública, já que os sintomas demenciais comprometem gradativamente a autonomia cognitiva do indivíduo.
No ambiente corporativo, transtornos mentais como a depressão, o estresse ocupacional e a síndrome de burnout são precursores para o aparecimento futuro de quadros demenciais, levando ao afastamento do colaborador e, consequentemente, a prejuízos empresariais. Logo, assim como o ambiente de trabalho pode favorecer quadros de comprometimento cognitivo a partir dos transtornos mentais apontados, ele também possui a capacidade de retardá-los.
Nesse contexto, a neurociência aplicada à arquitetura – NeuroArquitetura – surge como uma ferramenta fundamental para o retardo deste quadro de degeneração cognitiva ainda no ambiente empresarial, favorecendo não só os colaboradores ativos com maior experiência de trabalho, mas toda a equipe empresarial.
A partir dos Ambientes Enriquecidos, ou seja, de espaços que favoreçam e estimulem o estímulo motor, sensorial, cognitivo e social; a manutenção das atividades cerebrais a um nível saudável torna-se propícia por um longo período de tempo.
Vale destacar que o termo “Ambiente Enriquecido” foi proposto pela primeira vez pelo pesquisador influente na área da neuropsicologia Donald Hebb, quando constatou que os ratos que exploraram livremente sua casa tinham um desempenho melhor na resolução de problemas do que os companheiros que permaneceram alojados no laboratório, em 1947.
A partir disso, diversos estudos científicos passaram a ser produzidos neste contexto, e, neste artigo, serão destacados os principais elementos e estratégias de arquitetura e de design para moldar ambiente corporativos favoráveis à manutenção da saúde cerebral.
Existem várias formas de compreender as características que compõem os ambientes enriquecidos. Neste artigo, serão elencadas os principais componentes dos ambientes enriquecidos (i) presentes nos estudos da Marian Diamond, pioneira considerada a fundadora da neurociência moderna; e do neurobiologista Fred Harrison Gage; as estratégias espaciais aplicáveis ao ambiente corporativo (ii); e os benefícios gerados pelo uso das estratégias a serem descritas (iii).
– Principais componentes dos ambientes enriquecidos:
● Convívio Social
● Tamanho espacial suficiente para o desempenho das atividades pretendidas
● Oportunidade para a prática voluntário do exercício físico
● Proporcionar mudança e novidade no ambiente construído.
– Estratégias espaciais aplicáveis ao ambiente corporativo
● Criar zonas de relaxamentos a fim de controlar os níveis de estresse crônico;
● Oferecer oportunidade de executar atividade física voluntária, seja de forma individual ou em grupo
● Conciliar complexidade e estímulos multissensoriais congruentes com a cultura empresarial
● Propor sensação de controle e autonomia ao colaborador em seu espaço de trabalho de forma a não limitar sua criatividade/ produtividade.
● Oferecer oportunidade de encontro e conexão social, como o uso de espaços compartilhados; ambientes multiuso; reuniões grupais flexíveis e dinâmicas;
● Fomentar oportunidade de privacidade ao colaborador
● Possibilitar mudança e novidade no espaço de trabalho
● Desafios físicos e cognitivos
● Estar atento à iluminação, levando em consideração os fatores visuais, emocionais e biológicos desencadeados por tal elemento no espaço construído.
– Efeitos benéficos dos ambientes enriquecidos:
● Melhora da aprendizagem, melhora e produtividade
● Gerar respostas mais brandas ao estresse
● Prevenção de comportamentos semelhantes a depressão
● Reversão de alguns efeitos negativos do estresse crônico
● Retardo do aparecimento de distúrbios neurológicos
● Promoção de mudanças físicas benéficas no cérebro, como a plasticidade cerebral e, consequentemente, ao aumento da reserva cognitiva – resiliência cognitiva da mente em função do tempo.
Portanto, a longo-prazo, ambientes enriquecidos estimulam tanto o desenvolvimento neuronal quanto a criação de novos neurônios em determinadas áreas do cérebro. Por outro lado, ambientes empobrecidos possuem o efeito oposto, levando ao enfraquecimento cerebral e a perda de células nervosas importantes.
Vale destacar que tais benefícios são a longo-prazo! Logo, ele não é imediato, assim como o envelhecimento humano. Manter a mente saudável é realmente complexo, porém foi visto que é humanamente possível. Os colaboradores empresariais que objetivam a longevidade precisam de tempos mais longos de exposição a tais ambientes para que as alterações biológicas, psicológicas e sociais sejam constantes e duradouras! – E então, em qual tipo de ambiente você pretende trabalhar?
Por: Ciro Férrer Herbster Albuquerque